Sistema feito com lixo reaproveitado origina aquecedor solar na comunidade Zabbaleen, no Cairo/Foto: Connie Koeck
A casa de Hanna Fathy, um egípcio de 27 anos, situada na comunidade Zabbaleen, no Cairo (capital do Egito) pode ser comparada aos lares sustentáveis dos países mais desenvolvidos. Com seu sistema de aquecedores solares, a família dele tem água quente todos os dias. Um biodigestor proporciona uma hora de gás ou 45 minutos de eletricidade. "Gosto de mostrar às pessoas todos os benefícios que o sol pode nos dar com uma tecnologia barata que nós mesmos podemos construir", destacou à agência de notícias EFE.
Os moradores de Zabbaleen (catadores de lixo, em árabe) vivem com menos de US$ 1 por dia, não têm emprego formal e às vezes sequer contam com água ou eletricidade mas, no entanto, construíram em seus tetos tecnologia sustentável de primeira qualidade com a única coisa que têm de sobra: o lixo.
Alguns deles construíram aquecedores solares com materiais recicláveis que proporcionam a eles água limpa e quente. Com a iniciativa, tornou-se coisa do passado aquecer água na estufa ou com querosene, que anualmente causam a morte de 30 pessoas por acidentes.
A ideia da prática sustentável é do cientista norte-americano Thomas Culhane, um apaixonado pela criação de cidades sustentáveis, que se mudou para a favela do Cairo há quatro anos para iniciar o projeto. "Preparamos eco-comunidades que possam produzir soluções de água, energia, resíduos sólidos e que as pessoas sintam isso em seus ossos e mãos, que o vivam todos os dias", enfatizou o pesquisador.
A missão da ONG de Culhane, a Solar Cities, busca diminuir as despesas em energia e resíduos nas áreas dos lares que mais os produzem - banheiros e cozinhas. A tecnologia é tão simples que até "uma criança de dois anos pode implantá-la. Com a ajuda do pai, claro", ressaltou o cientista.
As 17 placas solares já instaladas no bairro, construídas com canos de ferro e chapas de alumínio de latas recicladas, aquecem a água que percorre os canos e a enviam a um tanque conectado com mangueiras e válvulas, também extraídas do lixo. Um efeito faz com que a água quente se acumule no alto do tanque e que a fria saia por baixo para entrar novamente no coletor solar.
"Não é uma tecnologia que veio de mim, mas saiu da própria comunidade. Carpinteiros, encanadores, eletricistas, soldadores e artesãos. Todos cooperaram com ideias", explicou o físico. O benefício é que, com um só dia de "bom sol" (condição que sobra ao Cairo ao longo do ano), uma família pode ter 200 litros de água quente sem gastar um só centavo.
Obtenção de biogás
O projeto na comunidade de Zabbaleen, onde vivem cerca de 50 mil pessoas entre montanhas de lixo, também abrange a construção de sistemas que permitem obter gás a partir da decomposição dos resíduos orgânicos. "O maior problema das cidades é o lixo orgânico", sublinhou Culhane. No entanto, segundo ele, com esses biodigestores, os resíduos desaparecem, "evitando odores, doenças e ratos".
"É ótimo que as pessoas falem das mudanças climáticas e de controlar seus efeitos, mas com isso nós estamos salvando vidas", enfatizou o cientista ao dar o exemplo de seu principal colaborador, Hanna Fathy, cuja sobrinha de um ano de idade foi devorada pelos ratos.
Com informações do EcoD
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