A era da eletromobilidade

Poucos fatos alfinetam tanto o ego dos alemães como o reconhecimento de que eles não lideram a corrida tecnológica ao automóvel elétrico. Estima-se que o atraso dos alemães em relação às nações asiáticas, que dominam a produção das baterias de íon-lítio, seja de, no mínimo, dois anos. Uma distância razoável para a tecnologia que pode se tornar padrão no século 21.


Dá para entender o motivo da preocupação: o que está em jogo são as perspectivas econômicas de grande parte das cadeias de produção, hoje emaranhadas com a indústria automobilística. O PIB e o nível de emprego na Alemanha dependem do crescimento da mobilidade individual, em termos globais. É triste, mas, no fundo, há quem ganhe com as ruas de cidades indianas, chinesas e brasileiras, cada vez mais entupidas de automóvel... Mas mudanças tecnológicas drásticas podem mudar a relação entre ganhadores e perdedores.


Serão os carros elétricos o futuro? Estudiosos asseguram: se quisermos continuar tão móveis como atualmente, teremos de contar com a eletricidade. A política também se movimenta. O governo alemão lançou a audaciosa meta de 1 milhão de carros elétricos até 2020. Mas a chave para o sucesso dos elétricos está nas mãos e nos bolsos dos consumidores. As pessoas precisam querer e poder comprar o carro elétrico para que os altos índices de mobilidade individual se mantenham, mesmo que não possamos mais contar com combustíveis fósseis.

Uma prova de fogo acontecerá nesse Natal, quando três montadoras colocarão seus eletromodelos no mercado europeu. São elas Mitsubishi, Citroën e Peugeot. O preço dos veículos deve ser superior a 40 mil euros (93 mil reais) – mais caros que modelos tradicionais, mas bem mais baratos que o já disponível elétrico Tesla Roadster, que custa 100 mil euros (233 mil reais). Além das novidades elétricas, o saco de presentes do Papai Noel também estará cheio de vários modelos de veículos híbridos – o que reflete, em parte, a postura cautelosa das montadoras, que não se despedirão do petróleo tão rapidamente.

Por meio de uma pesquisa de opinião divulgada recentemente, o clube de motoristas alemães ADAC sondou a possível aceitação dos elétricos na Alemanha. A boa notícia é que 88% dos entrevistados nutrem uma boa imagem dos carros elétricos e três de cada quatro dizem que comprariam um. São números surpreendentes, que mostram bastante consciência por parte dos consumidores. No entanto, grande parte deles não quer perder nem o conforto propiciado pelo espaço interno de um veículo convencional nem a autonomia de viagem. Apenas 38% topariam pagar mais por um automóvel elétrico. Neste ponto, os governos podem ter um papel fundamental através de subsídios e direcionando investimentos a tecnologias de fato verdes. (A discussão sobre a política de financiamento do BNDES, nesta semana, mostra como o Brasil ainda pode melhorar, nesse quesito.)

A era da eletromobilidade é bem-vinda, mas não devemos dar atenção demasiada a ela. No próximo post, gostaria de apresentar alguns argumentos para sustentar que, mesmo sendo uma boa alternativa à queima de combustíveis fósseis, os automóveis elétricos não promoverão, sozinhos, cidades mais sustentáveis. As bases para um transporte urbano viável precisam ser discutidas mais profundamente.

Via Planeja Sustentável
(Foto: i-MiEV, o carro elétrico da Mitsubishi, breve nas ruas europeias. Divulgação)

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